2018-03-21

CINED - O Espírito da Colmeia, de Victor Erice - Cinemateca Portuguesa - Lisboa - 20.03.2018



A seguir a projecção do filme O Espírito da Colmeia, de Victor Erice, no âmbito da sexta sessão da oficina CinEd - Crescer com o Cinema,  na Cinemateca Portuguesa na terça-feira 20 de Março de 2018, foi proposta uma conversa sobre o silêncio a partir da cena do pequeno almoço.

Na cena do pequeno almoço, o pai, Fernando, descobre, sem fazer perguntas, quem ajudou o fugitivo, lendo no rosto das filhas a sua reacção à melodia do relógio. Erice constrói esta sequência através dos olhares: são os olhares que dialogam, e é na troca de olhares que o espaço é construído, através de campos e contra-campos, sem um plano geral ou de conjunto, que nos mostre a relação das figuras entre si.

Propusemos, então, que fizessem a mise-en-scène da sequência. Do que é que precisamos para isso? Uma mesa, quatro cadeiras, 4 meninos para fazer as personagens de Ana, Isabel, Pai, Mãe. E ainda um realizador e um menino-câmara (de camisola vermelha). O realizador sentou os personagens à mesa, decidindo quem estava ao lado de quem, quem estava à frente de quem. 

No ecrã iam sendo projectados fotogramas dos planos: à mesa os meninos dirigiam o olhar na mesma direcção que as personagens, enquanto o realizador e o menino-câmara se iam posicionando, à sua volta, a cada mudança de plano. Íamos dizendo quem estava a olhar para quem, e a dada altura, apercebemo-nos que Ana e Isabel tinham de trocar de lugar. Já no fim da sequência, discutiram sobre onde pôr a câmara no plano em que se vê o pai de lado, porque era claro que não podia ser na mesma posição dos planos anteriores, até que o realizador disse "então só se for em cima da Ana!" e a menina-Ana levantou-se e sentou-se o menino-câmara, e assim, descobriram o único plano subjectivo da cena.